domingo, 21 de agosto de 2011

O Poder do Agora (Eckhart Tolle)

A alegria do ser para descobrir se a sua vida é controlada pelo tempo psicológico, pode usar um critério simples. Pergunte: há alegria, bem-estar e leveza naquilo que estou a fazer? Se não houver, é porque o tempo está a encobrir o momento presente e a vida é vista como um fardo ou uma luta. Se não houver alegria, bem-estar ou leveza naquilo que está a fazer, isso não significa necessariamente que tenha de mudar aquilo que está a fazer. Mudar o modo como o faz poderá ser suficiente. O "como" é sempre mais importante do que o "o que". Tente prestar mais atenção ao fazer do que ao resultado que quer alcançar. Preste toda a sua atenção àquilo que se lhe apresentar no momento. Isso também implica que você aceite inteiramente o que é, porque não poderá dar toda a sua atenção a alguma coisa a resistir-lhe ao mesmo tempo. 
Assim que você honrar o momento presente, toda a infelicidade e todo o conflito desaparecerão, e a vida começara a fluir alegre e facilmente. Ao agir com consciência do momento presente, tudo o que você fizer ficará imbuído de uma sensação de qualidade, de cuidado e de amor — até mesmo o ato mais simples. Portanto não se preocupe com o fruto da sua ação – preste simplesmente atenção à ação em si. O fruto virá de sua livre vontade. Isto é um exercício espiritual extraordinário. No Bhagavad Gita, um dos mais antigos e mais belos ensinamentos espirituais que existem, o desapego ao fruto da sua ação chama-se Karma Yoga. É descrito como o caminho da "ação consagrada". Quando cessa o esforço compulsivo para se afastar do Agora, a alegria de Ser flúi em tudo o que você fizer. No momento em que a sua atenção se voltar para o Agora, você sente uma presença, uma quietude, uma paz. Deixar de depender do futuro para a realização e satisfação pessoais — não espera dele a salvação. Portanto, não se apega aos resultados. Nem o insucesso nem o sucesso têm o poder de alterar o seu estado interior de Ser. 


Você descobre a vida subjacente à sua situação de vida. Na ausência do tempo psicológico, a sua sensação de identidade deriva do Ser e não do seu próprio passado. Portanto, deixa de existir a necessidade psicológica de ser uma coisa diferente do que você já é. No mundo, ao nível da sua situação de vida, você pode na verdade vir a ser rico e famoso, a ter sucesso, a estar livre disto ou daquilo, mas na dimensão mais profunda do Ser você está completo e inteiro agora. Nesse estado de plenitude, continuaríamos a ser capazes de (ou a estar dispostos a) perseguir metas externas? Claro, mas não terá expectativas ilusórias de que alguma coisa ou alguém no futuro o salvará ou fará feliz. No que diz respeito à sua situação de vida, poderá haver coisas a alcançar ou a adquirir. É o mundo das formas, dos ganhos e das perdas. No entanto, a um nível mais profundo, você já é completo e, quando compreender isso, haverá uma energia descontraída e alegre por trás de tudo o que fizer. Estando livre do tempo psicológico, você deixará de perseguir as suas metas com uma determinação sinistra, levado pelo medo, pela cólera, pelo descontentamento ou pela necessidade de vir a ser alguém. Nem ficará paralisado pelo medo de insucesso, que para o ego é perda de identidade. 


Quando a sua sensação de identidade mais profunda deriva do Ser, quando está livre do "vir a ser" como uma necessidade psicológica, nem a sua felicidade nem a sua sensação de identidade dependem de um resultado e, portanto, há ausência de medo. Você deixa de procurar a permanência onde ela não pode ser encontrada: no mundo das formas, dos ganhos e das perdas, do nascimento e da morte. Deixa de exigir que situações, condições, lugares ou pessoas o façam feliz para depois sofrer quando não correspondem às suas expectativas. Tudo é honrado, mas nada importa. As formas nascem e morrem, no entanto você conhece o eterno que há por trás das formas. Sabe que "nada que seja real poderá ser ameaçado." Quando é este o seu estado de Ser, como pode você deixar de ter sucesso? Já alcançou o sucesso.


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domingo, 14 de agosto de 2011

Antes de Vivermos, a Vida é Coisa Nenhuma

O homem começa por existir, isto é, o homem é de início o que se lança para um futuro e o que é consciente de se projectar no futuro. O homem é primeiro um projecto que se vive subjectivamente, em vez de ser musgo, podridão ou couve-flor; nada existe previamente a esse projecto; nada existe no céu ininteligível, e o homem será em primeiro lugar o que tiver projectado ser. Não o que tiver querido ser. Porque o que nós entendemos ordinariamente por querer é uma decisão consciente, e para a generalidade das pessoas posterior ao que se elaborou nelas. Posso querer aderir a um partido, escrever um livro, casar-me: tudo isto é manifestação de uma escolha mais original mais espontânea do que se denomina por vontade.


(...) Escreveu Dostoievsky: «Se Deus não existisse, tudo seria permitido.» É esse o ponto de partida do existencialismo. Com efeito, tudo é permitido se Deus não existe, e, por conseguinte, o homem encontra-se abandonado, porque não encontra em si, nem fora de si, a que agarrar-se. Ao começo não tem desculpa. Se, na verdade, a existência precede a essência, não é possível explicação por referência a uma natureza humana dada e hirta; dito de outro modo, não há determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. Se, por outro lado, Deus não existe, não encontramos em face de nós valores ou ordens que legitimem a nossa conduta. Assim, não temos nem por detrás de nós nem à nossa frente, no domínio luminoso dos valores, justificação ou desculpas. Estamos sozinhos, sem desculpa. É o que exprimirei dizendo que o homem está condenado a ser livre. 
Se suprimi Deus Pai, cumpre que alguém invente os valores. Temos de tomar as coisas como elas são. Aliás, dizer que inventamos os valores não significa senão isto: a vida não tem sentido a priori. Antes de vivermos, a vida é coisa nenhuma, mas é a nós que compete dar-lhe um sentido, e o valor não é outra coisa senão o sentido que tivermos escolhido. 


Jean-Paul Sartre, in 'O Existencialismo é um Humanismo'

Misantropia


Os misantropos expressam uma antipatia geral para com a humanidade e a sociedade, mas geralmente têm relações normais com indivíduos específicos (familiares, amigos, companheiros, por exemplo). A misantropia pode ser motivada por sentimentos de isolamento ou alienação social, ou simplesmente desprezo pelas características prevalecentes da humanidade/sociedade.
A misantropia não implica necessariamente uma atitude bizarra em relação à humanidade. Um misantropo não vive afastado do mundo, apenas é reservado (introvertido/timido fundamentalmente) e, é precisamente por este fato que é habitual serem poucos os seus amigos ou pessoas que estabeleçam um vinculo afetivo. Olham para todas as pessoas com uma desconfiança, é frequente serem feitos "juízos de cálculo" de cada um que se aproxime, embora muitas vezes não o demonstrem.
São pessoas que não gostam de grande agitação ao seu redor, pois não se sentem bem diante de muita gente, preferindo ficar em casa a sair para locais de diversão (indisposição para ir a lugares com muita gente, o que invariavelmente faz da pessoa uma caseira convicta). Podem ocorrer frequentes mudanças de humor: ora feliz, ora melancólico, o termômetro do estado de espírito fica louco, oscilando constantemente (poucas são as pessoas que vêem este seu aspecto, normalmente as mais próximas). Normalmente são muito perfeccionistas no que gostam de fazer e no que se comprometem a fazer. É muito frequente destacarem-se nas áreas em que estão inseridos (as que eventualmente têm um à vontade), pois dedicam grande parte do seu tempo ao trabalho.
A misantropia costuma aparecer desde logo durante a infância em crianças tímidas, introvertidas e caladas que têm dificuldades em fazer amigos, nomeadamente na escola, preferindo muitas vezes ficarem sozinhas. Com o passar dos anos, tendem a ser bastante sarcásticos/irónicos nas observações que fazem (pode-se dizer que em parte a grande timidez é disfarçada por estas duas características) - têm uma interpretação muito própria de tudo aquilo que vêem e de tudo aquilo que lhes é dito pelas outras pessoas, sendo bastante observadores e atentos ao que os rodeia embora, muitas vezes, não o pareça. Um fato notável é que são muito inteligentes, tendem a resolver desafios e enigmas com muita facilidade, já que vivem de um raciocínio puramente lógico embora não se deixam ser percebido. Também tendem a ser disléxicos, porém não em todos os casos.
Uma das explicações mais consistentes para esta aversão social deriva do fato de darem bastante relevância aos aspectos negativos que constatam nas pessoas ou simplesmente terem medo que estas os desiludam, daí as evitam. Têm uma forte sensibilidade ficando extremamente afetados com tudo o que os rodeia (mesmo que muitas vezes não estejam envolvidos diretamente) daí ser muito fácil, ao longo da vida, passarem por várias depressões.
Expressões evidentes de misantropia são comuns em sátira e comédia, embora a intensa seja geralmente rara. Expressões mais sutis são mais comuns, especialmente para mostrar as faltas/falhas na humanidade e sociedade.
É muito importante salientar que o misantropo tem dificuldades em assumir essas características tanto para si mesmo quanto para as pessoas mais próximas. Raros são os casos em que eles refletem acerca da possibilidade da misantropia ser integrante real das suas vidas, costumando negar a existência desta em todos os casos.


O misantropo

- É uma pessoa que tem aversão ao convívio social, prefere viver em isolamento.
- Aquele que não mostra preocupação em se dar com as outras pessoas, de ter uma vida social preenchida - tendência a ter uma pouca ou praticamente inexistente vida social.
- Estado de reclusão que alguns indivíduos escolhem para viver.

Quem não Ama a Solidão, não Ama a Liberdade

Nenhum caminho é mais errado para a felicidade do que a vida no grande mundo, às fartas e em festanças (high life), pois, quando tentamos transformar a nossa miserável existência numa sucessão de alegrias, gozos e prazeres, não conseguimos evitar a desilusão; muito menos o seu acompanhamento obrigatório, que são as mentiras recíprocas. 

Assim como o nosso corpo está envolto em vestes, o nosso espírito está revestido de mentiras. Os nossos dizeres, as nossas acções, todo o nosso ser é mentiroso, e só por meio desse invólucro pode-se, por vezes, adivinhar a nossa verdadeira mentalidade, assim como pelas vestes se adivinha a figura do corpo. 

Antes de mais nada, toda a sociedade exige necessariamente uma acomodação mútua e uma temperatura; por conseguinte, quanto mais numerosa, tanto mais enfadonha será. Cada um só pode ser ele mesmo, inteiramente, apenas pelo tempo em que estiver sozinho. Quem, portanto, não ama a solidão, também não ama a liberdade: apenas quando se está só é que se está livre.

A coerção é a companheira inseparável de toda a sociedade, que ainda exige sacrifícios tão mais difíceis quanto mais significativa for a própria individualidade. Dessa forma, cada um fugirá, suportará ou amará a solidão na proporção exacta do valor da sua personalidade. Pois, na solidão, o indivíduo mesquinho sente toda a sua mesquinhez, o grande espírito, toda a sua grandeza; numa palavra: cada um sente o que é. 

Ademais, quanto mais elevada for a posição de uma pessoa na escala hierárquica da natureza, tanto mais solitária será, essencial e inevitavelmente. Assim, é um benefício para ela se à solidão física corresponder a intelectual. Caso contrário, a vizinhança frequente de seres heterogéneos causa um efeito incómodo e até mesmo adverso sobre ela, ao roubar-lhe seu «eu» sem nada lhe oferecer em troca. Além disso, enquanto a natureza estabeleceu entre os homens a mais ampla diversidade nos domínios moral e intelectual, a sociedade, não tomando conhecimento disso, iguala todos os seres ou, antes, coloca no lugar da diversidade as diferenças e degraus artificiais de classe e posição, com frequência diametralmente opostos à escala hierárquica da natureza. 
Nesse arranjo, aqueles que a natureza situou em baixo encontram-se em óptima situação; os poucos, entretanto, que ela colocou em cima, saem em desvantagem. Como consequência, estes costumam esquivar-se da sociedade, na qual, ao tornar-se numerosa, a vulgaridade domina. 

Arthur Schopenhauer, in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'