domingo, 29 de setembro de 2013

Propriedade privada: Não entre

Por que a traição nos afeta tanto? A simples possibilidade da infidelidade em um relacionamento deixa alguns desesperados que nem crianças. Outros parecem não se importar, porque criaram uma defesa que os torna mais frios e também menos abertos à entrega amorosa. De qualquer forma, quando algo que cheire a infidelidade acontece, é uma avalanche, porque sempre há uma dor muito profunda em jogo.
Esta é uma questão que até hoje causa um grande desgaste nas relações, mas também tem sido fruto de debates importantes sobre o modelo monogâmico de família. Muitas pessoas já se arriscam a viver diferente.
Na Comunidade Osho Rachana, experimentamos novas formas de nos relacionar. Os casais, por exemplo, escolheram viver em casas separadas, mesmo com filhos. Não estou dizendo que a fidelidade não seja uma questão forte ainda. Mas buscamos em nossos trabalhos emocionais compreender melhor as causas do desespero.
Como Sartre e Simone de Beauvoir, poderíamos aceitar que nosso amado realizasse seus desejos e simplesmente dizer: “Eu te amo meu amor, portanto, se você sentiu atração por outra pessoa, tudo bem… Você vai ficar mais completa/o e assim a gente vai poder se amar mais”. Mas sabemos que este papo é balela na maior parte das situações.
A realidade da maioria dos mortais é bem menos libertária ou poética e o que acontece é que um parceiro tenta dominar o outro e fazer “contratos” reais, verbais ou até mesmo acordos silenciosos para evitar esta possibilidade. Apenas esquecemos que estes contratos vão também destruindo o amor.
Segundo o terapeuta corporal Prem Milan destaca em seu livro Por que você mente e eu acredito?, é um grande equívoco nos comportarmos como se tivéssemos várias torneiras que pudéssemos abrir ou fechar. “Eu fecho aqui para o João, aqui para a Maria, ali para a Francisca e mantenho aberta só para o Antônio. Esse é um erro, uma vez que a torneira da energia é uma só. Você não pode interromper seu fluxo para uns e abrir para outros. Quando você corta a possibilidade de exercer ou sentir atração fora do relacionamento, tem início um processo de perda da sensualidade. Para atender às expectativas inconscientes do outro, você passa a se vestir mal, a engordar e não se cuidar direito.”
Para não atrair outras pessoas, acabamos ficando não atraentes para nosso parceiro também. “Já não existe criatividade na relação, o sexo já não possui aquele fogo do início, não há mais espaço para o inusitado. Isso porque grande parte da energia dos dois está sendo reprimida em nome de um pacto de fidelidade que não é natural”, afirma Milan.
É claro que não existe uma fórmula de comportamentos ideais nem um manual de instruções. Tudo depende dos limites, dos sentimentos e das escolhas de cada um. Mas uma coisa é certa, conclui Milan: sempre que dizemos que aquela pessoa é nossa propriedade, o amor começa a morrer. E ele deixa claro que não defende que não existe fidelidade. “Quando se está amando profundamente, a gente só quer saber do toque da pessoa amada, só quer para si aquela energia. Mas essa é uma fidelidade que brota naturalmente, não fruto da repressão de seus impulsos e instintos. Nada garante que o desejo de ser fiel vá durar para sempre.”
Forçar a barra no quesito fidelidade tem causado grande dano aos relacionamentos, pois o amor nunca foi posse. O amor é liberdade. “A confiança no amor, mais do que na pessoa amada, é algo fundamental a ser resgatado. Sem ela, o medo do julgamento, do abandono e da rejeição estarão muito presentes, tornando quase impossível a entrega”, conclui Milan. Na sua visão, não olhar mais profundamente para esta questão implica em amar superficialmente, sem viver a verdadeira beleza do amor, sem viver o êxtase sexual, aquele momento em que nos perdemos em explosões orgásticas e que só acontece se estivermos confiando.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Definitivo

Definitivo, como tudo o que é simples. 
Nossa dor não advém das coisas vividas, 
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. 

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos 
o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções 
irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado 
do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter 
tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que 
gostaríamos de ter compartilhado, 
e não compartilhamos. 
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade. 

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas 
as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um 
amigo, para nadar, para namorar. 

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os 
momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas 
angústias se ela estivesse interessada em nos compreender. 

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. 

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo 
confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, 
todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar. 

Por que sofremos tanto por amor? 
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma 
pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez 
companhia por um tempo razoável,um tempo feliz. 

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um 
verso: 

Se iludindo menos e vivendo mais!!! 
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida 
está no amor que não damos, nas forças que não usamos, 
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do 
sofrimento,perdemos também a felicidade. 

A dor é inevitável. 
O sofrimento é opcional...
Carlos Drummond de Andrade