quarta-feira, 29 de julho de 2009

Virtudes Ociosas e Bolorentas


Mais que amor, dinheiro e fama, dai-me a verdade.
Sentei-me a uma mesa onde a comida era fina, os vinhos abundantes e o serviço
impecável, mas onde faltavam sinceridade e verdade, e com fome me fui embora do
inóspito recinto. A hospitalidade era fria como os sorvetes. Pensei que nem havia
necessidade de gelo para conservá-los. Gabaram-me a idade do vinho e a fama da
safra, mas eu pensava num vinho muito mais velho, mais novo e mais puro, de uma
safra mais gloriosa, que eles não tinham e nem sequer podiam comprar.

O estilo, a casa com o terreno em volta e o «entretenimento» não representam
nada para mim. Visitei o rei, mas ele deixou-me à espera no vestíbulo,
comportando-se como um homem incapaz de hospitalidade.

Na minha vizinhança havia um homem que morava no oco de uma árvore e cujas
maneiras eram régias. Teria feito bem melhor visitando-o a ele.

Até quando nos sentaremos nós nos nossos alpendres a praticar virtudes ociosas e
bolorentas, que qualquer trabalho tornaria descabidas? É como se alguém
começasse o dia com paciência, contratasse alguém para lhe sachar as batatas, e
de tarde saísse para praticar a mansidão e a caridade cristãs com bondade
premeditada!

(Henry David Thoreau)

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